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A mostrar mensagens de setembro, 2008

Amor Platónico

Hoje apeteceu-me escrever de ti (não sobre ti). Hoje lembrei-me de ti quando vinha a conduzir, depois de sair do trabalho. Tive um dia banal, nada de especial aconteceu. Nada de novo. Nada, por isso, fazia prever que me lembrasse de ti. Mas lembrei. Faz tempo que não te vejo, nem sei nada de ti. Nunca mais nos falámos. Pensei: Por onde andarás? O que é que tens feito? Estás bem? És feliz? Não sei. Não posso saber. Nem tu me dizes, nem eu te pergunto. Tu foste o meu "Amor Platónico". Todos os dias eu espreitava por aquela janela minúscula só para te ver. E todos os dias recebia um sorriso teu e devolvia o meu melhor olhar apaixonado. Lembro-me tão bem da primeira vez que falámos... E da última, também. Durante muito tempo eu pensei que era só eu que tinha vontade de espreitar todos os dias pela janela. Eu, ingénua. Eu, jovem. Eu, sem jeito nenhum para coisa nenhuma. Eu sempre assumi para mim mesma que serias o meu "Amor Platónico". E foste. Sempre. Até ao dia em que

Sossego de Ser

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383 Sossega. Cria a tua própria alma no escrevê-la, o teu pensar que ignoras, a notícia da beleza que passou por ti. Cria a tua serenidade nos arredores afastados de onde és obrigado a existir o que não és. Corta a passagem do que és para o lado em que não consentem o que sejas. Inventa-te na ignorância dos outros sobre ti - e terás renascido inteiro para o inquestionável de seres. A porta. Fecha a porta. Vergílio Ferreira , Pensar

Xisto

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( ...) Ah, pudessemos nós encontrar algo humano puro, contido, simples, uma estria nossa de terreno fértil, entre rio e penhascos. Porque o nosso coração nos excede tal como neles. E não podemos segui-lo com os olhos em imagens que o apaziguem, nem em corpos divinos em que, maior, se contém. Rainer Maria Rilke , As Elegias de Duíno

A Viagem na Cabeça

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Do meu quarto andar sobre o infinito, no plausível íntimo da tarde que acontece, à janela para o começo das estrelas, meus sonhos vão por acordo de ritmo com a distância exposta para as viagens aos países incógnitos, ou supostos, ou somente impossíveis. Bernardo Soares , Livro do Desassossego

Equinócio de Outono

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O Outono é muito mais do que uma estação do ano. Tem, na minha vida, um simbolismo muito grande. Não se resume à queda das folhas e aos ramos secos e vazios, não se fica pelo mau tempo, pela chegada do frio, pelos dias mais curtos. O Outono tem em mim uma vida que se distingue do resto do ano. A sua chegada marca-me lá bem fundo, no coração. O Outono chega e o meu coração escurece, a minha alma desvanece e eu própria fico distante do resto do mundo e de mim mesma. É assim há dez anos. Sou assim de há dez anos para cá. Tenho relatos escritos que me retratam no Outono e me mostram distante. É distante que me sinto e é distante que , de facto, fico. Fico longe daqui, longe de mim e dos outros. Parto da minha vida para longe, vivendo, ao mesmo tempo, qualquer coisa fictícia e real. Não é encenação, é real. Mas como se eu não estivesse presente na minha vida. Como se fosse um passageiro incógnito e discreto nesta viagem, neste período de tempo em que estou e me sinto fora de mim. O Outono c

Ser sem Viver

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Fosse Eu apenas, não sei onde ou como, Uma cousa existente sem viver, Noite de Vida sem amanhecer Entre as sirtes do meu dourado assomo... Fada maliciosa ou incerto gnomo Fadado houvesse de não pertencer Meu intuito gloríola com Ter A árvore do meu uso o único pomo... Fosse eu uma metáfora somente Escrita nalgum livro insubsistente Dum poeta antigo, de alma em outras gamas, Mas doente, e, num crepúsculo de espadas, Morrendo entre bandeiras desfraldadas Na última tarde de um império em chamas... Fernando Pessoa Ficções do Interlúdio Ser sem Viver, Morrer sem amanhecer-se. E assomar-se, antes e/ou depois de escrever-se. Alma fadada*

Coração de Sereia* - versão revista e actualizada

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O meu coração podia ter o aspecto e a forma deste azulejo. Não sendo rijo de barro, de cerâmica. Mas, sendo rijo de uma resistência que é inerente aos corações líquidos, nomeadamente o meu que é de Sereia* Um coração tão forte e tão azul como a água. Líquido, maleável, mole, que se entranha, que molha e tudo contagia 'líquidamente' No fundo, o que eu queria era que o meu coração fosse assim... redondo, azulado, com gotas azuis em molduras amarelas à saída da sua forma circular. Gotas de um azul que unisse o interior do coração, de cor verde, ao exterior - o universo. O todo e cada parte e partícula, feita de todo o material, com toda forma e cor E poder ver, como quem sente dentro do coração, que todo o universo é também da cor verde. A mesma cor desse centro que seria o meu coração... E como que num sonho, todo o universo cabia dentro deste azulejo. Num espelho mágico, descoberto num momento mágico, o azul podia ser o veículo, o modo de transporte do verde de dentro para fora

Fotografias com legenda... ou legendas com fotografia

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Podia correr por este claustros e esconder-me num ou noutro Podia subir ao alto de uma palmeira só para ver como sou pequena, vista do alto Podia espreitar para além da vedação feita de canas secas, para ver se, ao longe, avistava o meu caminho Podia escolher uma cor, ou muitas cores, para colorir o meu caminho e todas as minhas paragens e mudanças de direcção. Podia escolher outra sombra para me seguir no caminho ao Sol, em vez de caminhar na sombra Podia colher uma flor linda que me surgisse na vida Podia magoar-me menos nos picos E podia dizer "Adeus" como quem diz "Bom Dia"

FOLIA, Tu És Isso!

Cheguei e juntei-me à multidão. Todos à espera de qualquer coisa que não sabiam o que era. Só imaginavam, como eu, o que poderia ser. Uma voz feminina e forte chama por um nome: SEBASTIÃO! As luzes acendem, as caras surgem e, com elas, as palavras que a multidão esperava ouvir. Palavras. Palavras de luz. Palavras largadas em noite de lua cheia. Uma noite fantástica de Pentecostes. Todos estavam ali, em plena serra de Sintra, num dos locais mais fascinantes e que mais 'estórias' contam: a Regaleira. Todos estavam ali para festejar um mistério, para vislumbrar a luz que deveria descer sob a forma de línguas a qualquer instante, sobre as nossas cabeças duras. Todos haveriam de formar uma irmandade depois de renunciarem aos apegos e aos vícios de vidas que não são mais que "cadáveres adiados". Todos haviam de passar os cinco níveis de libertação e chegar à luz do páteo para assistir à coroação do Imperador do Quinto Império. Fui ungida com uma tinta braca na testa e encam

WATSU

O corpo, mantido em flutuação por braços que embalam suavemente, retorna a memórias perdidas de amor sem incerteza. A alma se eleva ao experimentar a liberdade de um corpo entregue à água - em busca de planos mais elevados. Mas não é separação o que acontece, e sim o êxtase da Unidade. Dentro do corpo que flutua a alma está livre para cantar e o corpo, tendo derrotado a gravidade e todos os laços materiais livre de toda a escravidão, volta a ser essência em seus braços. Alma Flor Ada Caros amigos Há uns anos atrás, tive a sorte de ser apresentada ao Watsu. Digo isto, desta forma, porque, de facto, hoje sei que o Watsu estava destinado a estar presente em mim. E foi com a sua chegada à minha vida que eu me encontrei. O Watsu, para quem não conhece, é o diminutivo para Water Shiatsu. Um trabalho corporal realizado dentro de água aquecida (quase à temperatura do nosso corpo), com base no Zen Shiatsu. O seu criador, Harold Dull, juntou movimentos de alongamentos e de massagem numa dança qu
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"Como sou atraído de volta àquela escuridão mais uma vez para permanecer de pé na praia diante do mistério na proa do barco de Vénus Enquanto ele arranha a areia e, jogando fora o vestido de espuma, ela desembarca. Como sou atraído de volta àquele lugar Eu ouvi, lançando-me para seu novo vestido florido, seu choro e seu riso Oh, beleza nascida na profundeza da noite" Harold Dull, Poeta, Mestre de Zen Shiatsu e criador do Watsu

Caetano

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"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" Caetano Veloso

De Tudo e de Nada - Desisto

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Vou por uma pedra sobre o assunto. Uma pedra qualquer, arredondada, para não me magoar mais. Vou deixar o mar levar de volta. Para longe daqui, para onde tudo começou e onde tudo há-de acabar. Assim, onda atrás de onda. Lua cheia, Lua Nova. Era após Era. Tudo depois de nada. Vou entregar os pontos. Fechar a porta, apagar a luz, puxar o lençol e tapar-me. Vou dormir sem sonhar. Vou parar de gritar em silêncio. Vou deixar de ouvir o grito, de sentir o aperto, de chutar no vazio. Hoje não se pode repetir dentro de mim. E eu sei que nunca se repete, mas aos meus olhos a repetição é infinita. Sou eu que não quero ver mais do que isto. Sou eu que não quero ver mais e melhor. Como se fosse possível. Eu digo a mim mesma: não posso mais. E respondo a mim mesma: desiste. Desisto. Sou fraca demais para continuar. Quero parar aqui, saltar em andamento para fora de onde estou. Não me nego a mim mesma, não consigo negar-me. Nem quero. Apenas reconhecer que errei, que erro. Sempre, em cada onda que m