Divagar
Tenho dias em que se paro para pensar... não tenho mais vontade de parar.
Fico ali parada, sentada, quieta.
E, ao mesmo tempo, com os pensamentos a fluir de tal modo, que a velocidade e o encadeamento entre eles me seduz.
Nessas alturas tenho vontade de me render a essa sedução. De me entregar. Como nos entregamos de bom grado ao sono e vamos dormir sem saber o que virá a seguir.
Dou comigo a viajar a bordo de pensamentos tão diferentes uns dos outros. Às vezes tão distantes, outras tão próximos da realidade. Às vezes tão errados, outras tão acertados.
Por vezes, misturo as sensações que tenho através dos cinco sentidos com o que penso...
O resultado é sempre um mistério que eu me delicio desvendar. Um mistério quase sempre "indesvendável" porque o que descubro fica guardado naquilo que lhe dá asas para voar.
Sei de mim mesma que tudo o que guardo nessas asas, voa para parte incerta.
Às vezes regressa, outras não. Conforme a direcção dos quatro ventos e a sua intensidade. Conforme a sua vontade de regressar. Conforme o abrigo que encontram em mim no seu regresso.
Os regressos são sempre mais pesados do que as partidas.
Sempre.
Porque ao regressarmos temos a vontade, o desejo escondido, de encontrarmos o que deixámos lá guardado, escondido e esquecido. Porque o regresso nos faz ter saudades do passado e o passado tem um peso diferente em nós. Em mim.
Tem, tem.
Agosto de 2003*
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