A escrita é a minha primeira morada de silêncio
a segunda irrompe do corpo movendo-se por trás das palavras
extensas praias vazias onde o mar nunca chegou
deserto onde os dedos murmuram o último crime
escrever-te continuamente... areia e mais areia
construindo no sangue altíssimas paredes de nada
era paixão pelos objectos que guardaste
esta pele-memória exalando não sei que desastre
a língua de limos
espalhávamos sementes de cicuta pelo nevoeiro dos sonhos
as manhãs chegavam como um gemido estelar
e eu perseguia teu rastro de espuma* à beira-mar
outros corpos de salsugem atravessam o silêncio
desta morada erguida na precária saliva do crepúsculo
Al Berto
in O Medo
* palavra alterada em relação ao texto original.
O autor real e verdadeiro do poema escolheu "esperma", eu escolhi "espuma".
Comentários
" UM FELIZ ANO DE 2009 "
Um abraço e meus votos de um ano novo muito feliz.
Passei para te agradecer a tua presença no meu dia... lá... na Serra de Sintra. Também andei no Castelo dos Mouros... hihihi... Foi fantástico. Rematados com um magnífico por-do-sol no Cabo da Roca!
Não te desejo Feliz Ano Novo, mas sim Feliz Dia Novo.. HOJE, porque hoje é que é importante, seja em 2008 ou 2009!
Beijinhos de Amor e Luz!
Dedicatória feita, um beijo com barbatanas e um sorriso de Taínha :))
Agora deu-me pr'ás taínhas...
De Al Berto, lembro-me sempre destas passagens,
"um dia, cresceu-me uma pérola no coração, mas não tenho ninguém a quem a oferecer"
"um dia, os barcos deixaram de fazer escala à minha porta"
"tenho dúvidas, que algum dia me visite a felicidade"
É um dia pouco feliz não é?
O teu é bem mais radioso, afinal um dia de *Sereia.
Bem mais!
Beijos
os meus dias de Sereia* nem sempre são radiosos, brilhantes e sintilantes.
Compreendo do que falas quando citas Al Berto.
Ultimamente (leia-se, nos últimos anos...) há uma tendência geral para desvalorizar as pérolas... a própria felicidade já nao é o que era para muita gente... e cada vez mais, viver em frente ao Mar é um luxo que poucos podem suportar...
deve ser por isso...
Mas eu teimo em Viver no Mar, teimo em guardar uma pérola qualquer cá dentro, não sei para quê... Só não espero pela felicidade, porque não acredito nela.
Antes de ser Sereia* acreditava, mas não agora.
Obrigada pela dedicatória, Vergílio*