Há dias...
Algures no tempo desta semana que passou...
Enquanto esperava pela minha vez, numa qualquer estação dos CTT deste país...
- A menina desculpe, eu não queria incomodar... mas posso lhe pedir um favor?
É que a moça ali do balcão não me facilitou nada, diz que não me pode ajudar...
- Não incomoda nada! Diga lá!
- Eu queira mandar um dinheiro para a minha filha que está em Évora, mas como não sei ler, nem escrever... não consigo escrever o papel que a menina do balcão me deu...
- A sério? A Sra. não a ajudou a preencher isso?
(fiquei chocada e com vontade de escrever uma reclamação, assim que chegasse a minha vez de ser atendida)
- Não! Disse que eram regras e que não podia...
- Então diga lá, que eu escrevo. Preciso de saber a sua morada...
- Ó filha... não sei dizer... não tenho...
(a sra. era de etnia cigana e eu percebi que ela podia mesmo não ter uma morada)
- Então e o seu nome?
- Está aqui neste papelinho... veja lá...
- E a morada da sua filha, lá em Évora?
- Olha filha... é para mandar para os Correios que ela vai lá receber... só tenho aqui estes números de lá...
('estes números' eram o código postal dos correios de Évora)
- Pronto! Agora preciso de saber quanto é que lhe quer mandar...
- xxx euros!
- Pronto, já está. Mas, agora, tem de assinar aqui nesta linha.
- Ah obrigada, mas isso faz o meu marido que ele sabe fazer o nome.
Obrigada minha querida! Um Bom Ano para ti! E desculpa lá se incomodei!
- Não incomoda nada! Bom Ano!
------
A senhora era um amor de pessoa, super educada e simpática e, por pouco, ficava sem ser atendida porque não sabia ler nem escrever... Eu fiquei danada! Indignada mesmo!
Mal chegou a minha vez, fiz o que tinha a fazer e, no fim, não aguentei! Perguntei à sra. do atendimento se era verdade que não se podiam ajudar as pessoas a preencher os formulários. A resposta foi pronta e sem pestanejar: Não, não podemos! São regras! Nenhum funcionário pode preencher nada que seja de um cliente.
Fiquei de boca aberta com a frieza da resposta e com a indiferença no olhar.
Nesse dia, se pudesse, tinha mesmo batido em alguém.
Confesso que vontade não me faltou.
E é este o país em que vivemos.
Amo este país de coração e julgo não ser capaz de trocá-lo por outro, nunca na vida. Mas estas situações deixam-me muito triste e, aos poucos, vão-me mostrando retratos sociais que não gosto de ver, que me deixam esmagada por dentro.
Fim da 'estória'*
Enquanto esperava pela minha vez, numa qualquer estação dos CTT deste país...
- A menina desculpe, eu não queria incomodar... mas posso lhe pedir um favor?
É que a moça ali do balcão não me facilitou nada, diz que não me pode ajudar...
- Não incomoda nada! Diga lá!
- Eu queira mandar um dinheiro para a minha filha que está em Évora, mas como não sei ler, nem escrever... não consigo escrever o papel que a menina do balcão me deu...
- A sério? A Sra. não a ajudou a preencher isso?
(fiquei chocada e com vontade de escrever uma reclamação, assim que chegasse a minha vez de ser atendida)
- Não! Disse que eram regras e que não podia...
- Então diga lá, que eu escrevo. Preciso de saber a sua morada...
- Ó filha... não sei dizer... não tenho...
(a sra. era de etnia cigana e eu percebi que ela podia mesmo não ter uma morada)
- Então e o seu nome?
- Está aqui neste papelinho... veja lá...
- E a morada da sua filha, lá em Évora?
- Olha filha... é para mandar para os Correios que ela vai lá receber... só tenho aqui estes números de lá...
('estes números' eram o código postal dos correios de Évora)
- Pronto! Agora preciso de saber quanto é que lhe quer mandar...
- xxx euros!
- Pronto, já está. Mas, agora, tem de assinar aqui nesta linha.
- Ah obrigada, mas isso faz o meu marido que ele sabe fazer o nome.
Obrigada minha querida! Um Bom Ano para ti! E desculpa lá se incomodei!
- Não incomoda nada! Bom Ano!
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A senhora era um amor de pessoa, super educada e simpática e, por pouco, ficava sem ser atendida porque não sabia ler nem escrever... Eu fiquei danada! Indignada mesmo!
Mal chegou a minha vez, fiz o que tinha a fazer e, no fim, não aguentei! Perguntei à sra. do atendimento se era verdade que não se podiam ajudar as pessoas a preencher os formulários. A resposta foi pronta e sem pestanejar: Não, não podemos! São regras! Nenhum funcionário pode preencher nada que seja de um cliente.
Fiquei de boca aberta com a frieza da resposta e com a indiferença no olhar.
Nesse dia, se pudesse, tinha mesmo batido em alguém.
Confesso que vontade não me faltou.
E é este o país em que vivemos.
Amo este país de coração e julgo não ser capaz de trocá-lo por outro, nunca na vida. Mas estas situações deixam-me muito triste e, aos poucos, vão-me mostrando retratos sociais que não gosto de ver, que me deixam esmagada por dentro.
Fim da 'estória'*
Comentários
por vezes é complicado...
lamento ainda mais o facto de partirmos para um serviço público a pensar na possibilidade de incompetência de quem lá trabalha!
Mais do que qualquer regra instituida, em qualquer organismo de serviços, que proíba qualquer ajuda no preenchimento de papelada para quem não sabe ler nem escrever...
LAMENTO MUITO MAIS podermos todos pensar como precaução e sobre-aviso que a funcionária se pode enganar a preencher!
Quando, na realidade, a funcionária deveria desempenhar o seu trabalho como qualquer outro trabalhador, concentrada naquilo que está a fazer e na pessoa que está a atender. Custa-me muito mais pensar de ante-mão que ela se pode enganar a preencher um papel que faz parte do seu quotidiano laboral.
Olhe, qualquer contabilista paga um engano muito caro, qualquer médico também. Eu própria, no desempenho da minha profissão, devo prestar atenção... e uma distracção pode custar uma vida!
Errar é humano, faz parte da nossa natureza. Fazer disso um escape e uma desculpa para a incompetência é muito grave!
Mukkinha,
:)
Tu, mais do que eu, és atreita a este tipo de situações. Eu sei bem!
:)
Obrigada pelo apoio e pelo comentário que deixaste.
Beijinhos*
Ainda bem que existem, e penso e acredito pessoas como tu, para estarem lá nestes momentos...
É o País que temos!
Muito bem observado e relatado.
Bjinhos
Que tristeza! Ou isto dá uma volta nas próximas eleições ou vamos andar todos a bater mal da cabeça!
Beijinhos e abraço apertado.